Americana

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Esse tempo embriológico, tumular,
antes do soar das trombetas e das tumbas,
corria anônimo no tumulto das ruas
como efeito totêmico do que está por acabar.

Atormentaram as substâncias com suas misérias,
atentando contra seu nome e sua pele,
Foi preciso quebrar seu corpo, catequizar sua prece,
para impedir que a sorte salvasse os infelizes.

Mesmo com a ferrugem atravessada nas entranhas,
um aviso, sobre os escombros e as plantas,
é suficiente para temer sua presença.

Não está abandonado, não entre,
há quem ainda habite os restos.

O contemporâneo é um ser orgânico, obsoleto,
como um tumor posto pra fora num único grito
entorta o curso do rio, deixa tudo preto,
transformando a lembrança num fatídico espírito.

Digam aos que se esquecem:
se essas paredes apodrecem,
alguém duvidará de ti amanhã.

Nada tem mais futuro que o passado,
nada é mais permissivo que o arame farpado
para quem pode morrer de fome e sede.

Quanta gente que, durante a noite,
sangra e chora por esses corredores
alimentando às moscas e aos vermes.

O futuro é procriador de uma flora eterna.
Escava os fósseis, tece a sutura,
serve num prato nossas ossaturas que,
no gozo do esquecido, se inferna.

Devorado pela ânsia de tantos anos,
mantém as excreções de todos os humanos,
ciente da insônia que tortura a morte.
Absorve o impacto dos abusos,
espalha pragas em gases difusos,
afastando de si qualquer golpe de sorte.

Perplexo pelo envelhecimento dos estilhaços,
aguardo a decomposição do concreto e do aço
pela chama visceral que acelera o brasido.
Torço para que alguém, nessa seca infinda,
não troque um domingo de repouso pela vinga
da terra que abraçou seus gemidos.

Tudo que o verme encontra, ele come.
Enquanto todos nós descemos ao abismo,
enterro a esperança num exorcismo,
para que a podridão não sofra com a fome.

Sinto a catástrofe rolar pelos degraus,
imunda de suor, poeira e caos.
Expelida do útero numa força bruta,
nasceu sem mãe, sem pai, sem casa,
sequer tem nome para ser uma farsa,
sequer tem punho para erguer-se à luta.

Deixando os destroços ao relento,
em valas imensas de terra e cimento,
a vida encarou seus últimos dias.
Buracos enormes, como dos abutres,
bicavam a carniça como de costume,
rompendo as rachaduras e suas estrias.